27 dezembro 2008


Cláudio...

Estou escrevendo porque fiquei muito abalada com nosso último encontro. Não imaginei que você fosse estar na casa do Lauro naquela noite. Desculpe pelas minhas atitudes, mas ainda está sendo muito difícil pra mim, digerir o término com o Felipe. Eu sei que as coisas são difíceis também pra você, não subestimo seu sentimento, e, pode acreditar, eu gosto muito de você. Quando digo que com você foi diferente dos outros, eu realmente estou sendo sincera. Foi difícil passar por todo o relacionamento com o Gabriel tendo tanto contato entre nós. Por isso quero pedir que não nos vejamos mais. Sempre que nos encontramos a situação fica complicada. Quero essa distancia não por mim, mas por nós dois. Agora é hora de encontrar alguém que me faça bem pra fazer a vida seguir. Durante os meses que passei com o Rodrigo foi muito difícil ficar sem te ver, mas, em compensação, enquanto estava com o Juliano os nossos encontros atrapalhavam tudo, e eu ficava perturbadíssima. Precisamos colocar as nossas vidas nos trilhos para que um dia possamos ter uma relação tão boa quanto merecemos. Esse momento é necessário, tudo até agora foi tão complicado. O Diego, por exemplo, não podia escutar seu nome, ele sabia a força que você tinha dentro da minha cabeça. Essa força realmente existe, mas precisamos colocá-la no lugar certo. Não quero também que você pense que quando terminei com o Zé eu estava te dando alguma esperança, não fique criando coisas que possam depois nos dolorir, assim como aconteceu na época da historia com o Mauricio, que nos machucou bastante. Aliás, o seu ciúme pelo meu primo era completamente fora de controle, não que não fizesse sentido. Foi difícil com o Pedro e com o Caio também. Meu namoro com o Estevão foi ficando inviável, com o Sandro era a mesma coisa. O Leonardo me odeia por causa disso... E eu passei a odiar o Bruno. O Japão foi morar em Portugal por sua causa! Você bagunçou a minha vida inteira! Não quero mais você por perto, não posso mais me permitir ser manipulada pelas suas palavras inteligentes e sensíveis. Você é um cretino, Cláudio. O que eu mais sinto por você hoje em dia é raiva. Seu desequilibrado! Não quero mais você ligando pra minha casa e preciso te pedir que não passe aqui por perto, já que é tão fora do seu caminho do trabalho. Se você vir meu irmão na rua, por favor, passe direto, ele não merece te encontrar e ser seduzido pelo seu papo fácil. E é bom você ficar sabendo que desde o rompimento com o Santiago minha família anda sempre acompanhada de seguranças discretos. Se você fizer alguma coisa errada, ou fora dos padrões dos meus pedidos, você pode acabar se machucando gravemente. Por isso, cuidado! Não quero que você se machuque. Eu sei que às vezes me complico e não demonstro as coisas claramente, como você gostaria, mas eu sinto muito carinho por você. Eu te amo muito. Eu te amo tanto... Eu sou completamente apaixonada por você, nunca consegui te esquecer, nem durante o meu casamento com o Augusto Carlos. Eu sou louca por você, pelo amor de Deus esquece o passado e volta pra mim. Preciso da sua companhia e do seu cafuné. Não consigo viver sem o seu sexo e sem o seu olhar de psicopata, eu não sei ficar longe de você! Claudio, por favor, me perdoa! Te peço, com todas as minhas forças, que tenha paciência e que leia esta carta até me entender. Seria bom se a partir de agora as coisas ficassem assim.

Um beijo,
Memezinha.

26 dezembro 2008


O FILHO não era meu

Se o Henrique Mineiro é mineiro
Se a Alice Morena é maneira
Agora o Zéu é Britto e o Léo é Bricio

Se o Murilo não era Rosa
Se o Benicio não era Del Toro
Confundiram o Leonardo Bricio com Murilo Benício
.
Se o Miguel não nasceu Falabella
Se a ninhada da Tônia é Thiré
Apresentaram o Cacá Diegues pra Cacá Mourthé

04 dezembro 2008


a rasa MENINA DE COSTAS

Linda menina de costas,
Vê se vira de frente pra mim.
Quero ver seu olhinho brilhando
E sua boca dizendo que sim.
E mesmo que diga que não,
Que pense que sim, que me quer.
Quero saber se o umbigo
Da nega é pra fora ou não é.
Se gire um pouquinho pra mim.
Olhar de perfil já ta bem,
Se é que a barriga também
Corresponde à bunda que tem.
A bunda também não vai mal.
Aliás, não se vire meu bem.
Morena com uma bunda dessa
É melhor quando vai do que vem.

30 novembro 2008



Já ESPEREI...

É uma inveja

Que se confunde com tesão
Que se confunde com paixão
Que se parece conexevirilidade

Se confunde com álcool
Se confunde com Baco
Se parece Martinez Corrêa


LIRINHA no OFICINA

21 novembro 2008


UMA mulher acordou sem lembrar NADA

Um dia uma mulher acordou sem lembrar nada desde duas semanas dali
Dormiu e tentou resgatar a saudade e a memória que um dia existiu
Desistiu porque a vida não vinha e a moça não tinha do que se queixar
Se queixou e de queixo deixou todo mundo da casa caído no chão
Parecia que havia morrido deitada na cama pra ressuscitar
Acordada no dia seguinte sentiu que era triste sem mesmo lembrar
Nenhum dia da vida passada que tinha vivido acreditava ter
Nem um choro, nenhuma gozada e nem se era donzela sabia dizer
Em vão se sentiu sem sentido esquecera se tinha sorrido ou se não
Não fazia questão de mais nada mas me perguntava do que não sofreu
Lhe contei que o passado da história não era só seu também era meu
Recordei as diversas risadas mas disse por fim – que sofreste por mim

14 novembro 2008


aquela distância toda

Estava tudo muito longe.
Olhei pra frente e estava longe.
Lá no fundo, era bem longe,
Tão longe que não tinha nada
Que se usasse pra explicar
Aquela distancia toda.

31 outubro 2008


Miss MOLLY



Tinha um BURACO

A meia-noite do dia passageiro no qual se constata a derrota política do último final de semana, estava eu, jogado na minha cama de barriga pra cima, inteiramente nu. Muito triste. Acendi um cigarro e escutei umas batidas na porta. Não liguei, pra aliviar o sadismo, mas me vesti com uma cueca, já imaginando que a pessoa abriria a porta, mesmo sem permissão. Bom... Era o Bob Esponja. (Silêncio) Juro por Deus! Eu tinha acabado de assistir o Felipe Rocha convencer uma platéia de varias coisas, fui pra casa escutando Nat King Cole, tomei banho e fui pro meu quarto. É claro que foi estranhíssimo, ainda tentei pensar se não estava confundindo a fisionomia dele com algum conhecido qualquer, mas, não, era o Bob Esponja. Com voz de Bob Esponja, todo amarelinho!

Levantei e fechei a porta dos outros quartos pra não perturbar. Refleti por alguns minutinhos curtinhos e fui saber o que ele queria. De uma forma bem rápida me alertou de alguma coisa chatíssima que estava acontecendo na rua, sei lá que diabo de coisa era exatamente. Mas, me vesti rápido, peguei o iPod e o maço de cigarros e fui pra rua com ele.

Eu estava lá, caminhando com aquela criatura estressadíssima, enlouquecida, do meu lado, ainda pensando muito na história do segundo turno. Logo que saímos de casa eu botei o Little Richard gritando no meu ouvido. Não estava escutando nada, mas de longe já dava pra ver o tamanho da confusão e da revolta das pessoas, sei lá com quem. Fui me aproximando com muita calma. O iPod estava cantando “Good golly Miss Molly” e eu ouvindo, com uma vontade completamente controlável de dançar.

Me distraí por um segundo e me perdi do Bob. Foi bem agradável. Ainda calmo, só que um pouco menos, tentei me infiltrar na multidão e me saí muito bem. Tinha um buraco. Exatamente no cruzamento da Rainha Guilhermina com a Dias Ferreira, exatamente mesmo, tinha um buraco enorme. Enorme! Na verdade eu não fui muito claro. O buraco não era grande, era gigantesco! Quando eu disse exatamente no cruzamento, eu queria dizer que o buraco estava milimetricamente no centro do cruzamento das duas ruas, se estendendo com muita clareza até onde eu mesmo não conseguia acreditar. O diâmetro era muito significante também. Me expressei mal novamente, não era um diâmetro, era apenas uma largura. Não era um buraco redondo, ele se estendia pela Rainha Guilhermina de forma integral! Agora fui claro? Era um buraco que ligava uma ponta da rua a outra! Levando em conta que no principio da rua fica a praia, e no outro lado o canal, e levando em conta também que estava passando água pelo buraco, eu pude concluir que estava sendo formado, ali, na minha frente, um novo canal do Leblon. Era uma visão inacreditável. Os carros estavam malucos, o transito não sabia como se resolver, devia estar um barulho desagradabilíssimo de buzinas e etceteras, mas eu ainda estava escutando Little Richard, e achando tudo lindo, esteticamente falando. As metades da Rainha se separaram com muita classe, nada ficou destorcido, os prédios continuaram intactos, só que bem mais afastados, estava realmente muito interessante. E dava pra passar meio carro de cada lado.

Era um inicio de madrugada, eu não tinha compromisso nenhum e nem hora de acordar no dia seguinte, então, sentei. Eu estava intrigadíssimo com a questão toda do buraco e também com a vergonha política, mas a música estava muito boa, queria me concentrar. Me agachei com muito calma e ritmo. Sentei na beirinha da vala, com as perninhas balançando. Era um visual inenarrável!

Na verdade, depois de uma hora parado, olhando a água passar e achando tudo muito estranho, enjoei do Little Richard. Pausei. As sensações sem iPod eram péssimas, as pessoas estavam malucas, correndo, gritando, mijando! Eu estava tranqüilo, o que eu poderia fazer pra ajudar? Aliás, eu nem queria ajudar, estava quase buscando a sunga pra dar um mergulho. Teria sido ótimo! Mas aí, sentadinho no meio daquela coisa toda, fui ficando deprimido. A porra da eleição estava me perturbando, não tinha mais jeito, o que se podia fazer era se acostumar! Eu não sabia como... Ainda não sei como. Não sei como aceitar que a maioria dos meus coleguinhas de cidade preferiu o camaradinha que ganhou.

Foi amanhecendo, os malucos foram sumindo, a polícia também e o buraco não. Eu me acostumei com a imagem, aceitei a paisagem nova. Era quase de manhã e eu basicamente sozinho. Na hora de sair de casa, acabei levando um baseado dentro do maço de cigarros, nem reparei. Mas já que ele existia, acendi a brincadeira! Foda-se se um policial aparecer, tem um buraco, porra! Alguém tem que fechar essa caceta! Numa hora dessas pode tudo! Fiquei fumando numa boa, ninguém falou nada, a não ser o flanelinha que me pediu um tapa. Não sei se eu estava muito doido, mas acho que vi o Bob Esponja passar boiando pela correnteza, bem na minha frente! Então foi isso... A partir desse dia teríamos uma lasca de ferida aberta na Rainha Guilhermina. A melhor coisa a fazer era sair dali e ir direto à Rio Lisboa, nada como uma canoa na chapa pra finalizar com sarcasmo!
.

Rainha Guilhermina

28 outubro 2008


JORGE ROBERTO se suicidou com um tiro uma semana depois

Com cuidado:
- Meu amor, você ainda me ama?
- Amo.
- Nem tanto, né?
- É, nem tanto.
- Tá bom.

27 outubro 2008


DESSA PORRA



24 outubro 2008


Colocação de RODRIGÃO
.
Todo mundo foi embora,
Acabei aqui sozinho.
Sobrei, fiquei carente,
Ainda tava um friozinho,
Mas forcei um sorridente.

A ausência era marcante.
Fui comer no restaurante,
Fui pedir a milanesa.
Cantinho do Leblon,
Por sinal, barato e bom.
Lá só tinha acebolado,
Pra aumentar a minha tristeza.
Ou então frango grelhado
Que não vem acebolado,
Ou pode ser frango ensopado,
Mas não fica bem na mesa,
O semblante não é legal.

Fui no prato executivo,
De segunda a sexta-feira,
No sábado não se faz.
E, apenas nesse domingo,
A gente vota no Gabeira,
Que é a única maneira
De mudar alguma coisa
Pra eu não me sentir sozinho,
Pra que eu fique aconchegado.
Mas do jeito que sou bobo
Vai dar tudo errado,
Mas é porque eu sou maluco.

Hoje, mais uma vez na vida,
Me encantei por uma loira,
Uma loira que era linda
E que ria pros meus olhos
Tão sem graça quanto eu,
Que por sinal fiquei calado,
Derretido, quase apaixonado.
É a carência do dia-a-dia,
Dos dias quentes de friozinho,
Que esquenta mais do que esfria,
Pelo ventinho gostoso e saboroso
Como o bife mal passado
De uma quinta-feira vazia
Com um chope na meia pressão,
Me convencendo pra que eu sorria
E esqueça essa agonia.
Ficar sozinho é bom -
Bebe-se álcool, ouve-se música
E ainda se pode mandar em um garçom
Escolhido pra você,
Que se sentia um homem triste
E agora se diz contende.

Como diria o Rodrigão -
Uma andorinha só nunca serão!

23 outubro 2008



FAMILY GUY - apenas pelo prazer sádico de cada dia!

16 outubro 2008


DE braguilha aberta ele foi caminhando

De braguilha aberta,
Ele foi caminhando sem pensar aonde ia.

Pensou sobre o tempo,
Pensou sobre as cores,
Pensou que o que vai vem
E que seu pai estava errado.
Assumiu seus amores
E seguiu pela areia deserta,
De braguilha aberta.

Ele foi caminhando sem saber aonde ia,
Mas parou pro que vinha.

Na praia sozinha
Surgiu uma moça,
De vestido curto e frágil,
Atrasada pra fazer o penteado.
Se chamava Karina
E foi-se embora voando,
E o menino olhando.

De braguilha aberta,
Não reparou se a menina desapareceria.

Reparou que era outra,
Mais bonita, que vinha.
Uma bem mais simpática,
Com calor de vizinha.
Essa não foi-se embora,
Ficou pra falar do mar
E pra, quem sabe, tentar avisar.

Então, ficou parado pra pensar aonde ia,
Mas não sabia se queria.

Deslumbrado com a loira
Esqueceu da mulata,
Porque a loira era alta
E pestanejava falar.
Desejava escutar
Sem saber o que vinha,
A voz dela era tão bonitinha.

De braguilha ainda aberta,
Pediu um beijo pra ver se a menina daria.

O beijo foi dado
Com imenso cuidado,
Provocou sussurrinhos
E ainda se ouviu um obrigado
Da menina Roberta,
Que não pretendia dizer nada
Além de avisar da braguilha aberta.

Com a calça lacrada,
Pediu e ganhou outro beijo e depois voltou pra casa.

15 outubro 2008


TWIN TOWERS VIDIGAL HOTEL Plaza


09 outubro 2008


as MINHAS MULHERES não são minhas

As minhas mulheres não são minhas. E mesmo assim, dia após dia, eu me submeto a elas. São tão delas próprias que eu me calo, eu obedeço. A revolta sobe até o gogó, sim, mas já no clima da desistência, querendo descer. O sorriso delas é mais forte, o choro, a raiva é mais forte, a dissimulação é mais forte, elas são enormes. Fascinantes, elas nunca foram minhas, e, se foram, esqueceram de me avisar. Já foram tantas e, por mais minhas que fossem, nunca minhas. Não que fossem de outros, muitas vezes sim, muitas vezes não, mas apenas não me pertenciam. Digo isso sem obsessão de posse, estou citando um tipo de coisa muito mais suave e absolutamente mais intensa. É impossível, é inviável não aceitar, não acatar, não querê-las por perto. A sedução é longa, o perigo é breve. Elas são lindas! Venenosas, me enlaçam de propósito, só pelo prazer de jurar que não havia intenção de enlaçar. A engenharia masculina não se mostra suficientemente a altura do maquiavélico raciocínio óbvio das malditas arquitetas. Tão puras e belas quanto más e astutas, elas decidem. Me deixam com febre e despertam uma obsessão fantástica, de tão boba. Deliciosas, me comandam se quiserem, mas só quando querem. Se não precisam, me deixam livre o suficiente pra pensar que eu mando em mim. Não mando, não. Sou inteiramente delas. Fico pensando que talvez a culpa seja minha, me falta força, falta vida. Talvez seja culpa delas, é controle demais, é descontrole demais e é tanta inocência que não existe inocência nenhuma. Exageradamente frágil é a minha paixão, pra passar por cima de toda essa capacidade de tudo, que já nasce com elas. De onde vêm esses furacões? Loucas, se perdem nos próprios pensamentos impróprios, e calmas, percebem e anotam cada passo, a cada milímetro, a fim de concluir o que provavelmente será desnecessário. Malucas. Fantásticas. Arrogantes. Vale mais apena aceitar o desprezo do que conviver com a falta. Gostosas, mimadas e necessariamente interessantíssimas, acabam comigo. Como é possível? De onde elas brotam, assim, previsíveis e surpreendentes? É o egoísmo da independência! Cheias de si, é como acontece – sempre delas mesmas, nunca minhas.

08 outubro 2008


ÀS VEZES não escovo o dente
.
Quase ninguém que me conhece é otário
Eu sou
Nenhum deles tem cheiro de otário
Eu tenho
Eu me apaixono por todo mundo

Eu me olho no espelho e vejo uma cara de bobo
Que parece cara de gente magra
O cabra que sente a barriga tremer
De noite no susto, não tem vontade de nada
.
As mulheres que me amam
Não são as mulheres que eu peço
Os homens que eu amo
Não são os homens que me pedem

O desespero infla e o camarada fica em casa
Filosofando da vida, reclamando das vacas
Quem escuta a vizinha tem ouvido absoluto
Mas quem não ouve ninguém tem orelha afiada

Ninguém, das pessoas que eu conheço, é escroto
Eu sou
Ninguém nem parece escroto
Eu pareço
E às vezes tenho inveja dos outros

02 outubro 2008

01 outubro 2008


a mulher de COPACABANA

As dez pras seis uma mulher acordava dentro de um lugar estranho. Digo “dentro” porque era um local especificamente lacrado por uma porta de ferro, que corria de cima a baixo das pilastras. Não se sabia de absolutamente nada. A mulher não sabia quem era, não sabia seus planos e, finalizando a agonia, não sabia nem uma historinha sobre o que vinha antes - uma pessoa sem passado. Na verdade, passado a moça devia ter, mas não parecia, as memórias não chegavam nem a apontar que existissem. Uma desmemoriada. Ficou sentada em um banco no calçadão por doze horas seguidas tentando se lembrar de alguma coisa, quase um dia inteiro em função daquilo. Só sabia que havia despertado dentro de um bar estranho, com alguns poucos gatos feios.

Acordou do sonho, que desconhece, como quem estivesse se afogando. Levantou, olhou em volta, conferiu os bichos e não entendia nada - Onde mesmo era isso? Não sabia de pistas que explicassem como acabou por dormir sozinha atrás de uma grade de ferro. O barulho da porta sendo levantada as seis e treze foi um alivio, mas um alivio incerto. O português mestiço com sotaque carioca disse aos berros que saíssem. Deveria ser para os gatos, mas ela aproveitou para obedecer e sair logo dali. Apesar da impossibilidade do fato, acreditou que o sujeito não tinha notado que estava lá e pensou – foda-se!

Se deparou com Copacabana, disso ela lembrava, quase na esquina da praia. Sem sentir fome, foi na direção do mar e caminhou um bom pedaço de calçada. Sentou no banco e ficou. Ali, sem nada pra fazer, ficou. Muito. Pensar na vida não tem propósito quando não existe coisa pra pensar, só é coerente pensar no que está acontecendo no momento, o presente, ao pé da letra. Ela olhava pra frente e não fazia sentido. Olhava pros lados e não via nada. E olhando nos olhos das pessoas se sentia como quando olhava pro lado, ninguém olhava pra ela, ou, quando olhavam, era absolutamente sem querer. Não estava sendo vista. Ficou de pé. Permaneceu assim por uma meia hora, sem mexer um músculo. Estava sentindo falta de no mínimo ser tratada como maluca em vez de ser completamente ignorada por uma população inteira. Tentou sorrir pra chamar atenção e não chamou ninguém. Cantou. Como não podia se lembrar de músicas antigas, na verdade apenas cantarolou, e foi tremendamente inútil. A desgraçada era desmemoriada e basicamente invisível. Foi por isso que, por fim, acabou por se sentar no tal banco e permanecer, até escurecer, sem sentir fome. Realmente foi só isso mesmo que ela fez.

Quando a escuridão das luzes passou a incomodar os olhos, se levantou. Pra onde ir? Bom... Voltou tudo. Andou de costas pra testar a percepção alheia, durante o caminho inteiro, até se ver novamente cara a cara com a Duvivier – rua onde tinha acordado. Nessa rua aproveitou pra durar mais um pouco, já que havia durado tanto nos outros lugares ao longo do dia. Que dia vazio.

Retornou ao bar. Parou na porta e refletiu em silencio, mais uma vez, por um tempo longo bem significante. Entrou pisando em ovos pra não ser reconhecida, ao contrario do que desejou em todos os outros segundos da memória. Sentou no balcão. Era diferente com luzes. Cartazes de bebidas ruins e diversos outros clichês estavam espalhados pela parede, só não estavam os gatos. Não foi atendida e não se espantou por isso, estava digerindo a idéia de não ser levada em conta. Até as três horas da manhã não falou, não recebeu nenhum olhar, nenhuma palavra doce e, por incrível que fosse, nenhum xingamento. Três em ponto, ao ver a porta do bar ser fechada, exclamou – Ué! Não teve resposta, foi novamente lacrada. A magnífica volta ao seu mais recente útero. Não estava à vontade. Tentou respirar pra acalmar os nervos, mas parece que depois de trancado aquilo fedia muito. Tédio. Chegou a achar o tédio corriqueiro, mas, como só tinha vivido um único dia, nada podia ser taxado como corriqueiro. Fazendo um barulho no teto os gatos surgiram de um buraco invejável para se esconder. Pronto. Não tinha rumo e nem idéia do que poderia se chamar de ontem nem de amanhã, mas tinha companhia, podia dizer que voltara pra casa, por mais que não. Voltou e encontrou os mesmos integrantes que tinham sido abandonados por ela de manhã, é assim que as famílias fazem. Viu que não precisava de outros alívios para suas inseguranças. As quatro e dez, dormiu tranqüila, apesar dos pesares.

29 setembro 2008


LAURO RODRIGUES sem pudores.

26 setembro 2008



GABEIRA por Nelson Motta

UTOPIA CARIOCA

RIO DE JANEIRO - Sempre que vejo na televisão a propaganda do TSE mandando a gente ficar de olho nos nossos eleitos, sinto um certo constrangimento e uma sensação de ridículo institucional. Mas também um estranho orgulho e um vago sabor de superioridade: há várias eleições voto no deputado Fernando Gabeira e nunca me decepcionei com seus votos, atitudes e atuação política, mesmo quando, às vezes, discordo de seus pontos de vista. Sua honestidade e inteligência são inquestionáveis.

É uma felicidade democrática ter alguém que realmente representa no Congresso o que você pensa e acredita. Isto também é quase ridículo, porque é uma exceção do que deveria ser a norma, como é em países civilizados. Mas fiquei ainda mais orgulhoso agora que ele impôs suas condições para ser o candidato da frente PV-PSDB-PPS à prefeitura do Rio de Janeiro.

Não pediu poderes ilimitados, nem caminhões de dinheiro, nem submissão dos partidos à sua vontade: exigiu uma campanha limpa, sem ataques pessoais, propositiva; divulgação pela Internet dos fundos e despesas da campanha, e o principal: caso eleito, que o secretariado seja escolhido por méritos e critérios profissionais e não partidários, sem o habitual loteamento como moeda de troca por apoio político. Ele não acha que só porque 'todos' fazem errado ele deve fazer também. É quase uma utopia. Mas se é a realidade em países civilizados, por que não, um dia, no Brasil?

Conhecido por sua trajetória dedicada aos direitos humanos, à ecologia, saúde, educação e cultura, com reconhecida capacidade de diálogo democrático e tolerância, sem concessões à ladroagem e à política-como- ela-é, o que ele propõe é o óbvio. Mas parece um sonho quase impossível.

O Rio de Janeiro merece esta esperança!

Nelson Motta


23 setembro 2008


UMA DÚVIDA

Estava ouvindo o Bob Marley cantar “Redemption Song” e fiquei em dúvida se estava muito contente ou deprimido. Deve parecer meio bobo, assim, a primeira vista. E deve ser meio bobo mesmo.

Na verdade eu estava vendo o filme do Will Smith com a Alice Braga - “Eu sou a Lenda” – e até gostando do filme. Pois é, o personagem dele fala muito do Bob Marley. Durante o filme o Will dá mais valor a “Tree Litle Birds”, mas, nos créditos, toca “Redemption Song” e eu entrei nessa dúvida.

É só isso, não há muito pra onde concluir, é apenas uma dúvida. É estranho pensar nisso, mas felicidade e tristeza se parecem...

Redemption SONG


15 setembro 2008


UM AFRONTE
o certo é "uma afronta" mas ontem foi afronte
.
Pedi pra dançar com ela depois de dançar com varias que se saiam bem melhor, o que pouco importa! Ela era um afronte! Que loucura, essa mulher! Dançava dura, mas dançava tanto que dançava bem! Não dançava tanto, mas eu senti como se fosse muito. Ela quase havia recusado o meu convite, eu inclusive aceitei sem choro, mas terminou por não resistir, sorrir no final, e ainda pedir bis! Bom, se eu já tinha experimentado sensações mirabolantes na primeira valsa, na segunda eu sumi. Não sumi sozinho, ela veio comigo – de vez em quando esbarrávamos em algum casal e voltava a lembrança de um salão lotado, mas, com paciência, ele acabava sumindo de novo e mais uma vez podia-se escutar o som da valsa. Ela dançava tensa, exigindo do meu braço direito uma precisão muito esquisita e, sem querer, contribuindo muito e deixando a dança fluir. Na segunda vez dancei como se ela fosse minha. E mesmo sabendo que poderiam me desmentir, diria que senti como se ela desejasse que eu fosse dela. Aquele afronte! Definitivamente, uma valsa inesquecível...

ARRUMAÇÃO DA CASA DE Friburgo



Por Pedro Thomé e Lourenço Monte-Mor

09 setembro 2008


A MOÇA

Não tem nada o que falar
Mas mesmo assim a moça fala
E aí fica muito estranho
Quem não tem nada pra dizer se cala

Não diz coisa com coisa
Fica mal, desajeitada
Seria bom ficar calada
Mas do nada a doida fala

Valeria ficar quieta
Mesmo assim, insiste e fala
Não precisava dizer nada
Mas a boca dela não pára

NEGRO gato



Tatih Kohler

07 setembro 2008


AS PALAVRAS NÃO VEM...
.
Ah, seu eu pudesse descrever
a vontade que tá,
que ela tem de me ter.
.
A vontade que dá,
que ela não sabe ver.
Se eu pudesse descrever,
eu descreveria pra você.

Mas as palavras não vêm...

05 setembro 2008


SEXO, DROGAS E Rock n'roll

A primeira geração diz:
-Sexo, drogas e rock n’roll.

A segunda geração diz:
-Sexo, drogas e rock n’roll?

A terceira geração:
-Por que não, sexo drogas e rock n’roll?

E a quarta:
-Pra quê, sexo, drogas e rock n’roll?

E a quinta:
-Apenas sexo, drogas e rock n’roll.

A sexta:
-Nada de sexo, drogas e rock n’roll.

A outra:
-Sexo, drogas e rock n’roll, porra!

E ainda:
-Quem?

04 setembro 2008


VOCÊ ENCONTRA NA MINHA CIDADE
.
O garoto era simpático. Dividia um apartamento na Rua das Laranjeiras com seu cachorro galgo, o aquário da irmã mais nova, a irmã mais nova, a irmã do meio, uma conhecida, a mãe, e a avó Suzana Carolina, que era, também, particularmente simpática. Era só um pouco difícil. Às vezes ele parecia não fazer parte, se sentia como se não entendesse a própria residência. É realmente esquisito digerir a idéia de que aquelas seis pessoas, sem se estressar, conseguiam se dividir em dois pequenos quartos e ainda sobrar um quarto só pra ele, por ser homem. Pra evitar qualquer constrangimento o menino preferia conviver sem essa resposta, valia mais apena não saber onde as pessoas dormiam.

Um dia, por volta do ano passado, se pegou sozinho no quarto escutando um CD do Jorge Ben. Fazia tempo que não ouvia Jorge Bem, por isso estava envolvido e levemente emocionado. Fazia sentido. Olha aí meu bem, prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém. E não faz mesmo. Quis comer canja, depois desistiu. Se apegou a outras frases. Conversa, bitoca, espera, passa o rodo, para melhorar, chama pra dançar. Se sentiu esquizofrênico e também refletiu sobre o Jorge Bem ser esquizofrênico. Engenho de Dentro, quem não saltar agora, só em Realengo. Aí complicou! Engenho de Dentro? Se sentiu abandonado e concluiu ser, apesar de gordinho, muito pequeno. Onde ficavam esses lugares? Onde é Realengo? É ruim não conhecer a própria cidade.

Não avisou as mulheres, pegou a mochila vermelha, juntou uns trocados e foi em direção ao metrô lembrando que devia ter cuidado para não esquecer o guarda-chuva. Não sabia quanto tempo demoraria, mas queria chegar lá. Entrou no trem na estação Largo do Machado cantarolando as mesmas frases. Levou um livro mais não leu. Sem querer, foi parar na Saens Peña, voltou até a Estácio e trocou de linha, como se deve fazer. Viajou se divertindo: São Cristóvão, Maracanã, Triagem, eram várias informações. Engenho da Rainha? Que rainha? Nada disso. Thomaz Coelho, Coelho Neto e o Eng. Rubens Paiva só estava lá pra confundir. Chegou na Pavuna, saltou e viu que era cinza. Já era noite.

De repente o garoto parou e ficou calado dentro de todo aquele subsolo. Não tinha a estação do Engenho de Dentro? Não. Voltou pra casa lendo o livro.

01 setembro 2008


Famyli Guy


Só SE eu morrer
.
Se eu morrer será você
Quem vai cuidar da minha ida
Não é muito complicado
É um tanto simples, minha vida

Não me encuca o desespero
Nem me espanta a despedida
Mas insisto em ser você
Quem vai tratar da minha partida

Não me importa o seu olhar
Nem se a missa vai ser lida
Já me deixará feliz
O teu pesar na minha ida

Mas para não ser mal entendido
No que há pouco eu escrevi
Alego não querer morrer
E vou ficando por aqui

30 agosto 2008


LEVE O SEU chinelo

Quero pedir pra você não me amar nunca mais
Porque eu não capaz
De te entender

Poderia, se eu pudesse até faria o que desse pra ser
Mas não vai dar
Não sou capaz de você

Sai, leva o amor embora e tranca essa porta que eu não quero ver
Não quero olhar nada que se pareça com você
Porque vai doer, ah, vai doer
E eu vou te odiar
Se você me olhar
Com intenção
Se você me olhar com intuitos estranhos, tudo tão
Sem raciocinar
Eu vou te odiar
Inda espalho que estava na razão

Sai dessa casa voando
Me abandone chorando
Dê o fora daqui
E leve o seu chinelo
Que dele eu não quero nem saber
Leve o seu chinelo
Que o cheiro me lembra você

Sai dessa casa pulando
Saia pela janela
Me deixe dormir
E leve o seu chinelo
Que dele eu não quero nem saber
Leve o seu chinelo
Que o cheiro me lembra você

29 agosto 2008


Rafa


O NÃO-soneto DA RIMA DO GESSO
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Eu pensei em escrever um soneto sem começo
Mas logo na segunda linha só consegui rimar com gesso
E apesar dos quatro versos que na primeira estrofe, mal, eu meto
Logo na quarta linha desisti de ser soneto

Na segunda quase estrofe
Com formato meio oposto
Desisti de qualquer coisa
Mas rimei com um bom mau gosto

Se nos versos da terceira
Terminar com menos linhas
Volta a ser soneto sem rima?

Não. Não pensei na quarta estrofe
E terminei com muita linha
Mas não importa se é soneto
A estrofe é mesmo minha

26 agosto 2008

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POR Lourenço Monte-Mór e Pedro Thomé


SOLDADO DE Deus

------Eu estava chupando manga
------Olhando a entrada do metrô
------Eu achava que eu era bonito
------Mas já me disseram que eu não sou
------O lugar era até bonitinho
------E o sorriso dela veio iluminar
------Com uma boca meio mal amada
------E com pombos em volta insistia em falar
------De repente uma voz perturbada
------Mais forte que ela quis me perturbar
------Me peguei em estado de choque
------Calado, humilhado, tentando berrar

Deus me chamou
E eu parei de ressuscitar
O senhor me chamou
Só que eu estava fumando um beque
Agora eu sou um soldado de Deus
invisivel!

24 agosto 2008


A HORA

A hora se passa
A gente não nota
E quando repara
A hora se foi

A hora se foi
A hora se foi
A hora se vai
A hora se foi

A hora não nota
E quando repara
A gente se vai
A hora se foi

FIM DE LIVRO
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Na história do livro que eu estava escrevendo
Tinha gente morrendo, tinha gente devendo
Mocinho, bandido e polícia bebendo
Você casava no final

No meio do livro você me conhecia
Beijava a minha boca e usava calcinha
Até a vizinha de tudo sabia
E eu dizia ser o tal

Nesse romance não tinha dinheiro
Era ter arma no bolso e ser muito maneiro
O povo do norte virou macumbeiro
Jesus pulava carnaval

LLL Tudo que eu vivi era silêncio
LLL Você sempre insistia em ser calada
LLL Malucos te puxavam pra calçada
LLL Casando no final
LLL Pra ver se a vida era feliz
LLL Só no final

LLL Bonequinha tosca de porcelana
LLL Vou te dizer a pouca coisa que eu sei
LLL Muita história mudou
LLL E o livro não emplacou

20 agosto 2008


MEUS QUERIDOS cachinhos
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Dia de trabalho. Normal.
No calor do sol, com roupa de época e bem pouco texto. Enfim... Foi isso! Calor, época, pouco texto e, dessa vez, uma surpresa - o cabelo dela não estava lá! Como não? Eu não podia acreditar, o cabelo dela! Eu definitivamente não tinha me preparado pra isso. Mas o que havia sido feito com aquela delicadeza que tinha me fascinado tanto? O que eu deveria fazer com todas as pouquíssimas lembranças tão desejosas que aqueles cachinhos forçados e bem definidos me traziam? Eu me vi sem chão! É claro que ela ainda era linda! Encantadora! A voz estava lá, os olhos estavam lá, as costas estavam lá (mesmo que, naquele dia, tampadas) e, aliás, tudo estava! Menos os meus queridos cachos, que tanto, e cada vez mais tanto, eu desejava. Eu preferia que tivessem lhe tirado outra coisa. Que saudade! Agora ela era outra. Os fios chegavam a parecer mais escuros, mesmo que da mesma cor. Ela parecia mais séria, mesmo que mais sorridente do que antes. Foi tão esquisito, que a minha sensação era de que ela estivesse careca, ou quase careca (que é mais próximo do que ela realmente estava). Estranho! Mas é assim mesmo... Os sonhos continuam, as lembranças ficam e a respeito do desejo nem se fala. Pois é... Eu só queria que tivessem me avisado!

MUITO BONITA
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Se ela soubesse que quando é sincera é muito mais bonita
Seria muito mais sincera e muito mais bonita

Se ela soubesse que quando é sincera é ainda mais bonita
Seria ainda mais sincera e ainda mais bonita

Ah, se ela soubesse que quando é sincera é tão bonita...

18 agosto 2008


UM DIA VOCÊ VAI ENTENDER PRA QUE SERVEM AS MULHERES ou PESSIMISMO

Um dia você vai entender pra que servem as mulheres

E aquela que você mais desejar
Não irá te querer
E a que você nem quiser
Essa sim quererá você
E quando você quiser querer a segunda
A tal primeira, que tanto você desejava
Vai passar tipicamente (automaticamente) a te querer como dela

E se você concordar com isso
Irá ela desejar outro
E logo aquele outro
Com tantos outros

E quando, outra vez, você quiser querer a segunda
Também muito simpática
Ela terá um terceiro
E logo quem? Logo aquele

E então você estará sozinho

Assim
Como de costume
Se acostume
Pois assim você vai entender pra que servem as mulheres

DA VIDA ou OTIMISMO

Ela me quer
Mas quer que eu pense que não
Quer também que eu queira
E sabe que eu quero
Por isso finjo que não quero
Porque aí sim
Quando ela acreditar
Ela vai querer
E vai ter
Feliz;

Inclusive, feliz.
Fim.


POIS É... Acontece...

Então... Saí do infantil, sem muitas pretensões, pretendendo fumar pouco e fui direto pra casa do Caio Graco. A idéia, na verdade, era comer uma pizza de graça na Cobal do Humaitá, mas, pra abrir o apetite, decidimos dar uma passada na casa do Caio. E fomos.

Na hora de ir embora, ainda sem pretensão nenhuma, notei uma revista que repousava por ali, perto da saída da casa. Logo vi Juliana, que estava linda e nua, com poucos panos brancos de muito bom gosto enrolados no corpo. A foto dela era muito interessante e charmosérrima. Era inevitável, folheei as primeiras páginas e notei alguma diferença. Perguntei logo – é uma playboy especial? Eram muitas mulheres diferentes e todas muito cativantes. E realmente, era uma edição extra, para colecionadores como diz na própria capa. Fui ficando seduzido por aquele prólogo, com tantas informações diferentes (era uma de cada país). Eu não estava conseguindo ir embora, como queria o Caio e os outros, eles sentiam fome. Tentei pedir que esperassem, tentei folhear mais rápido, mas realmente eles queriam ir. O proprietário das folhas disse – eu te empresto, quer? O que fazer numa hora dessas? Eu aceitei, lógico! Ainda estava longe de ver as fotos que eu mais desejava, Juliana só falaria comigo lá pela página setenta. Coloquei na mochila. Algumas piadas sobre masturbação foram feitas e acabamos saindo.

Em casa, de madrugada, sem nenhum tipo de pretensão, quis conferir Juliana, pelo amor de Deus, que já era hora! Aliás... Meu Deus! Que Juliana! Quantas coisas vêm à cabeça ao se deparar com esse tipo de Juliana! Mas enfim... Sem pretensões. Folheei até o fim e pude constatar que era verdade a informação sobre ser uma edição especial, eram muitas mulheres e todas fantásticas! Pra ser sincero, até babei, literalmente. E é exatamente aí que está o problema...

Bom... Eu sei o que aconteceu, quero dizer, eu estava lá, e na verdade não aconteceu foi nada! Mas como explicar ao dono da revista que aquilo é água (ou, pelo menos, saliva)? Não me leve a mal, não pretendo ser grosseiro ao escrever sobre esse tipo de coisa, mas me peguei pensando seriamente sobre isso! Tem uma marca em uma das fotos que não tinha antes, eu que fiz! Mas eu juro que só estava bebendo água! Além de tudo levando em conta as piadas que foram feitas e refeitas ao sair daquele apartamento, ninguém vai acreditar em mim! Nem eu acreditaria, e olha que não havia testemunha! Nossa... Que situação... A única coisa que eu posso fazer é devolver a revista e explicar logo a verdade, mesmo que ele não acredite. E eu apostaria meu carro (se eu tivesse um) que ele não vai acreditar. Até eu já estou ficando confuso! Será que foi isso mesmo?...

16 agosto 2008


NOSSO ENCONTRO

O rapaz entrou no bar, muito decidido. Ela já estava lá. Olá – disse ele antes de ouvir o – Senta aí, tudo bem? O clima, apesar de simpático, estava tenso. Os dois se olharam. Continuaram olhando. Olharam. Ela parou de olhar. Ele gelou. Ela notou. Silêncio. E aí, tudo bem – perguntou a menina com voz quase de resposta – o que de tão importante você tem pra dizer? Trêmulo da cintura pra baixo e gelado da cintura pra cima o garoto começou – Sabia que eu estou escrevendo poesia? Ela riu. Ele não gostou. Ela parou de rir. Ele riu. Ela perguntou por que ele tinha dito aquilo e ele disse que isso era importante, afinal, ele não escrevia poesias. O que você quer dizer – ela perguntou, doce, mas, também áspera – quer me mostrar? Ele disse – acho que não! A menina não compreendeu. Ele também não. Após não compreender mais um pouco, sabe-se lá o que, ele disse, lindamente “eu te amo”. Assim mesmo, entre aspas, e não depois de um travessão, foi um eu te amo lindo, que nenhum ser humano, nunca será capaz de dizer. Ela olhou para ele. Ele quis chorar, não se sabe se de alegria ou de ódio. Ela olhou mais um pouco e os dois continuaram se olhando. Ele chorou. Ela também.