30 agosto 2008


LEVE O SEU chinelo

Quero pedir pra você não me amar nunca mais
Porque eu não capaz
De te entender

Poderia, se eu pudesse até faria o que desse pra ser
Mas não vai dar
Não sou capaz de você

Sai, leva o amor embora e tranca essa porta que eu não quero ver
Não quero olhar nada que se pareça com você
Porque vai doer, ah, vai doer
E eu vou te odiar
Se você me olhar
Com intenção
Se você me olhar com intuitos estranhos, tudo tão
Sem raciocinar
Eu vou te odiar
Inda espalho que estava na razão

Sai dessa casa voando
Me abandone chorando
Dê o fora daqui
E leve o seu chinelo
Que dele eu não quero nem saber
Leve o seu chinelo
Que o cheiro me lembra você

Sai dessa casa pulando
Saia pela janela
Me deixe dormir
E leve o seu chinelo
Que dele eu não quero nem saber
Leve o seu chinelo
Que o cheiro me lembra você

29 agosto 2008


Rafa


O NÃO-soneto DA RIMA DO GESSO
.
Eu pensei em escrever um soneto sem começo
Mas logo na segunda linha só consegui rimar com gesso
E apesar dos quatro versos que na primeira estrofe, mal, eu meto
Logo na quarta linha desisti de ser soneto

Na segunda quase estrofe
Com formato meio oposto
Desisti de qualquer coisa
Mas rimei com um bom mau gosto

Se nos versos da terceira
Terminar com menos linhas
Volta a ser soneto sem rima?

Não. Não pensei na quarta estrofe
E terminei com muita linha
Mas não importa se é soneto
A estrofe é mesmo minha

26 agosto 2008

.
.

POR Lourenço Monte-Mór e Pedro Thomé


SOLDADO DE Deus

------Eu estava chupando manga
------Olhando a entrada do metrô
------Eu achava que eu era bonito
------Mas já me disseram que eu não sou
------O lugar era até bonitinho
------E o sorriso dela veio iluminar
------Com uma boca meio mal amada
------E com pombos em volta insistia em falar
------De repente uma voz perturbada
------Mais forte que ela quis me perturbar
------Me peguei em estado de choque
------Calado, humilhado, tentando berrar

Deus me chamou
E eu parei de ressuscitar
O senhor me chamou
Só que eu estava fumando um beque
Agora eu sou um soldado de Deus
invisivel!

24 agosto 2008


A HORA

A hora se passa
A gente não nota
E quando repara
A hora se foi

A hora se foi
A hora se foi
A hora se vai
A hora se foi

A hora não nota
E quando repara
A gente se vai
A hora se foi

FIM DE LIVRO
.
Na história do livro que eu estava escrevendo
Tinha gente morrendo, tinha gente devendo
Mocinho, bandido e polícia bebendo
Você casava no final

No meio do livro você me conhecia
Beijava a minha boca e usava calcinha
Até a vizinha de tudo sabia
E eu dizia ser o tal

Nesse romance não tinha dinheiro
Era ter arma no bolso e ser muito maneiro
O povo do norte virou macumbeiro
Jesus pulava carnaval

LLL Tudo que eu vivi era silêncio
LLL Você sempre insistia em ser calada
LLL Malucos te puxavam pra calçada
LLL Casando no final
LLL Pra ver se a vida era feliz
LLL Só no final

LLL Bonequinha tosca de porcelana
LLL Vou te dizer a pouca coisa que eu sei
LLL Muita história mudou
LLL E o livro não emplacou

20 agosto 2008


MEUS QUERIDOS cachinhos
.
Dia de trabalho. Normal.
No calor do sol, com roupa de época e bem pouco texto. Enfim... Foi isso! Calor, época, pouco texto e, dessa vez, uma surpresa - o cabelo dela não estava lá! Como não? Eu não podia acreditar, o cabelo dela! Eu definitivamente não tinha me preparado pra isso. Mas o que havia sido feito com aquela delicadeza que tinha me fascinado tanto? O que eu deveria fazer com todas as pouquíssimas lembranças tão desejosas que aqueles cachinhos forçados e bem definidos me traziam? Eu me vi sem chão! É claro que ela ainda era linda! Encantadora! A voz estava lá, os olhos estavam lá, as costas estavam lá (mesmo que, naquele dia, tampadas) e, aliás, tudo estava! Menos os meus queridos cachos, que tanto, e cada vez mais tanto, eu desejava. Eu preferia que tivessem lhe tirado outra coisa. Que saudade! Agora ela era outra. Os fios chegavam a parecer mais escuros, mesmo que da mesma cor. Ela parecia mais séria, mesmo que mais sorridente do que antes. Foi tão esquisito, que a minha sensação era de que ela estivesse careca, ou quase careca (que é mais próximo do que ela realmente estava). Estranho! Mas é assim mesmo... Os sonhos continuam, as lembranças ficam e a respeito do desejo nem se fala. Pois é... Eu só queria que tivessem me avisado!

MUITO BONITA
.
Se ela soubesse que quando é sincera é muito mais bonita
Seria muito mais sincera e muito mais bonita

Se ela soubesse que quando é sincera é ainda mais bonita
Seria ainda mais sincera e ainda mais bonita

Ah, se ela soubesse que quando é sincera é tão bonita...

18 agosto 2008


UM DIA VOCÊ VAI ENTENDER PRA QUE SERVEM AS MULHERES ou PESSIMISMO

Um dia você vai entender pra que servem as mulheres

E aquela que você mais desejar
Não irá te querer
E a que você nem quiser
Essa sim quererá você
E quando você quiser querer a segunda
A tal primeira, que tanto você desejava
Vai passar tipicamente (automaticamente) a te querer como dela

E se você concordar com isso
Irá ela desejar outro
E logo aquele outro
Com tantos outros

E quando, outra vez, você quiser querer a segunda
Também muito simpática
Ela terá um terceiro
E logo quem? Logo aquele

E então você estará sozinho

Assim
Como de costume
Se acostume
Pois assim você vai entender pra que servem as mulheres

DA VIDA ou OTIMISMO

Ela me quer
Mas quer que eu pense que não
Quer também que eu queira
E sabe que eu quero
Por isso finjo que não quero
Porque aí sim
Quando ela acreditar
Ela vai querer
E vai ter
Feliz;

Inclusive, feliz.
Fim.


POIS É... Acontece...

Então... Saí do infantil, sem muitas pretensões, pretendendo fumar pouco e fui direto pra casa do Caio Graco. A idéia, na verdade, era comer uma pizza de graça na Cobal do Humaitá, mas, pra abrir o apetite, decidimos dar uma passada na casa do Caio. E fomos.

Na hora de ir embora, ainda sem pretensão nenhuma, notei uma revista que repousava por ali, perto da saída da casa. Logo vi Juliana, que estava linda e nua, com poucos panos brancos de muito bom gosto enrolados no corpo. A foto dela era muito interessante e charmosérrima. Era inevitável, folheei as primeiras páginas e notei alguma diferença. Perguntei logo – é uma playboy especial? Eram muitas mulheres diferentes e todas muito cativantes. E realmente, era uma edição extra, para colecionadores como diz na própria capa. Fui ficando seduzido por aquele prólogo, com tantas informações diferentes (era uma de cada país). Eu não estava conseguindo ir embora, como queria o Caio e os outros, eles sentiam fome. Tentei pedir que esperassem, tentei folhear mais rápido, mas realmente eles queriam ir. O proprietário das folhas disse – eu te empresto, quer? O que fazer numa hora dessas? Eu aceitei, lógico! Ainda estava longe de ver as fotos que eu mais desejava, Juliana só falaria comigo lá pela página setenta. Coloquei na mochila. Algumas piadas sobre masturbação foram feitas e acabamos saindo.

Em casa, de madrugada, sem nenhum tipo de pretensão, quis conferir Juliana, pelo amor de Deus, que já era hora! Aliás... Meu Deus! Que Juliana! Quantas coisas vêm à cabeça ao se deparar com esse tipo de Juliana! Mas enfim... Sem pretensões. Folheei até o fim e pude constatar que era verdade a informação sobre ser uma edição especial, eram muitas mulheres e todas fantásticas! Pra ser sincero, até babei, literalmente. E é exatamente aí que está o problema...

Bom... Eu sei o que aconteceu, quero dizer, eu estava lá, e na verdade não aconteceu foi nada! Mas como explicar ao dono da revista que aquilo é água (ou, pelo menos, saliva)? Não me leve a mal, não pretendo ser grosseiro ao escrever sobre esse tipo de coisa, mas me peguei pensando seriamente sobre isso! Tem uma marca em uma das fotos que não tinha antes, eu que fiz! Mas eu juro que só estava bebendo água! Além de tudo levando em conta as piadas que foram feitas e refeitas ao sair daquele apartamento, ninguém vai acreditar em mim! Nem eu acreditaria, e olha que não havia testemunha! Nossa... Que situação... A única coisa que eu posso fazer é devolver a revista e explicar logo a verdade, mesmo que ele não acredite. E eu apostaria meu carro (se eu tivesse um) que ele não vai acreditar. Até eu já estou ficando confuso! Será que foi isso mesmo?...

16 agosto 2008


NOSSO ENCONTRO

O rapaz entrou no bar, muito decidido. Ela já estava lá. Olá – disse ele antes de ouvir o – Senta aí, tudo bem? O clima, apesar de simpático, estava tenso. Os dois se olharam. Continuaram olhando. Olharam. Ela parou de olhar. Ele gelou. Ela notou. Silêncio. E aí, tudo bem – perguntou a menina com voz quase de resposta – o que de tão importante você tem pra dizer? Trêmulo da cintura pra baixo e gelado da cintura pra cima o garoto começou – Sabia que eu estou escrevendo poesia? Ela riu. Ele não gostou. Ela parou de rir. Ele riu. Ela perguntou por que ele tinha dito aquilo e ele disse que isso era importante, afinal, ele não escrevia poesias. O que você quer dizer – ela perguntou, doce, mas, também áspera – quer me mostrar? Ele disse – acho que não! A menina não compreendeu. Ele também não. Após não compreender mais um pouco, sabe-se lá o que, ele disse, lindamente “eu te amo”. Assim mesmo, entre aspas, e não depois de um travessão, foi um eu te amo lindo, que nenhum ser humano, nunca será capaz de dizer. Ela olhou para ele. Ele quis chorar, não se sabe se de alegria ou de ódio. Ela olhou mais um pouco e os dois continuaram se olhando. Ele chorou. Ela também.

CAMPOS ELÍSEOS

Espero que você não perca a fé
E possa acreditar
Que os campos Elíseos existem
Pra mim e pra você

Porque eu racionalizei
Deus me disse que não é pra acreditar
Em mim e em Jeová

E nem nas saídas de incêndio
Que vão me aparecer
Eu quero chocolate
Pra me satisfazer

ACORDA PRA CUSPIR ou CULPA

Não pode comer doce
Não pode fumar
Não pode beber cerveja
Bebe água
Come uma maça
Meditação
Não se estressa
Esquece a sensação
Vai com calma
Esquece ela
Segura a barriga
Simpatia
Linha reta
Linha reta
Olha pra frente
Não pensa no passado
Pensa no futuro
Não pensa no futuro
Pensa no presente
O futuro virou presente
Vai pra frente
Vai pra frente
Sorridente
Pensa cinza
Juliana
Não se estressa
Vai com calma
Pedro
Sem emoção
Respeita os mais velhos
Dois a zero pro Flamengo
Poeira do universo
Presta atenção
Sem se envolver
Cultura
Cultura
Loira burra
Luz elétrica
Gente doida
Linha reta
Linha reta
Acorda pra cuspir
Equilibra o rebolado
Reza pra Jesus
Aprende o português
Estuda tailandês
Recebe o troco
Junta um dinheirinho
Imita um passarinho
Fica em casa
Toma banho
Troca a roupa
Põe uma cueca apertada
Põe o coração pra bater
Come carne
Come frango
Foda-se aquela mulher
Vagem
Arroz com brócolis
Sementinha
Acorda
Levanta
Vive
Dorme
Obrigações
Situações
Vaudeville
Linha reta
Linha reta
Fernando Pessoa

09 agosto 2008


Qualquer merda me dá angústia. Hoje em dia... Nos dias de hoje, qualquer merda me angustia. To ficando puto. Eu não gosto da angústia, mas acho que a filha da puta gosta muito de mim. Arriscaria dizer que ela me ama. A filha da puta. Se fosse outra pelo menos... Mas logo a angústia. Se fosse a raiva eu acho que eu seria mais feliz. Seria raivoso. Acho que, do jeito que eu sou angustiado, eu seria bem raivoso! Mas seria feliz. Angústia não é relacionada a nada bom. Eu preferia ser canhoto do que ser angustiado. Por que, por mais escroto que a gente ache, quem é canhoto gosta de ser canhoto. Todo mundo sabe que é uma merda ser angustiado. Mas quem tem angústia não gosta de ter angústia. Nunca escutei nem um comentário bom. Ninguém nunca me disse – adoro essa sua angústia de viver! Nunca soube de ninguém que tenha relacionado essa desgraça a inteligência. Nunca alguém falou – os grandes pensadores e revolucionários eram todos dotados de muita angústia. Nunca. Ou, se falou, falou baixo.

To escutando Caetano. Me angustia. Mas, continuando...

Quando alguém falou de angústia, falou mal. Se é que alguém fala de angústia, quem não tem não lembra. Só escuto sobre angústia quando falam mal de mim – nossa, como você é angustiado. Eu sei! Eu já notei antes de você me dizer! Peguei você! Bando de idiota. Bando de desangustiado.

O Caetano é incrível, a gente se emociona. Mas angustia horrores. Enfim...

Detesto quem não tem angústia.

“Soy loco por ti América” ·

Que merda, né? Eu não gosto de quem não gosta da minha angústia... Eu não gosto de mim por que tenho angústia... Poucas pessoas não ligam pra minha angústia... Ninguém gosta. Ninguém gosta dela! Ninguém no mundo gosta dessa merda de sentimento. Se é que se pode chamar de sentimento. Angústia. Que merda é essa?

“Soy loco por ti de amores”.

Angústia... Vou perguntar pro Caetano.
ME CONTARAM NO FINAL DE SEMANA PASSADO, NUM CURAL (uma confissão)

Eu sou um boi. Um boi mesmo - o primo do touro, o marido da vaca, o que você preferir. E o que eu vou contar não tem graça nenhuma. Na verdade, meu único motivo de inspiração é poder compartilhar com vocês uma dúvida de lingüística etimológica idiota que não sai da minha cabeça. Aconteceu quando eu estava sozinho, migrando. Passei, uma vez, mais ou menos umas três semanas peregrinando pelos pastos do sudeste, bebendo água de rio sujo, comendo grama com lama e dormindo sempre em pé e sempre mal. Essa história pode parecer mentira, mas eu vi, ninguém me contou.

Quando você já está andando sozinho há mais de sete dias você fica doido. Doido e exausto. Não dava pra saber o que era verdade ou não, a não ser que fosse claro demais. Dessa vez não era ilusão, por que era claro demais - uma porteira, no meio do pasto cinza. Quando o pasto é cinza geralmente não tem nada, mas tinha. Uma construção longa e gorda foi crescendo conforme eu me aproximava, e junto aumentava o ruído de bois mugindo (que, na hora eu pensei, quebrava o clima de solidão). Sei lá quantas vacas estavam lá dentro. Cara de matadouro. Aquilo era um matadouro. Que porra é essa?

Fui com calma. Me aproximei de um basculante mais alto do que eu, que era a única janela visível daquele bloco maluco de concreto, e dei uma olhadinha difícil lá pra dentro. Não vi nada. Será que tinha outra janela? Não dava pra saber, era enorme. Segui o muro por dois minutos e notavelmente os gritos aumentaram. Agora dava pra saber que os ruídos que eu tinha escutado antes eram nítidos gritos de humanos do sudeste. E depois de mais dois minutos tensos de percurso eu reparei uma janela - que não era um basculante. Deu pra ver tudo!

Foi chato. Acho que eu não queria ter passado por isso, a cena mais desagradável que eu já vi na minha vida. Era realmente um matadouro. E os gritos eram realmente de humanos. Humanos estavam pendurados por correntes, um por um, em minúsculas baias de concreto ao longo de um galpão enorme. Eram muitos, centenas. Os bois circulavam em silêncio entre os homens e mulheres pendurados. Estavam todos muito gordos e com as pernas fininhas. Dizem que eles ficam anos nessas posições pra poder engordar bastante. Passei também pela situação de ver uma gordinha ser fulminada por um dos bois, um boi com chifres enormes. Mas eu não vou contar. Fiquei pensando, será que eles comem essas pessoas? E se não comem, pra quem vendem tanta carne?

Nesse tempo todo ninguém me viu. Fiquei assistindo aquela cena bizarra e pensando se essas pessoas seriam servidas em alguma mesa de jantar. Cheguei à conclusão de que esses bois deveriam ser antropófagos. Não seria isso? Quem come carne humana é antropófago. Ou antropofagia é a mesma coisa que canibalismo? Porque canibais aqueles bois só seriam se estivessem comendo bois. Essa questão não me abandona desde então. Eu, naquela circunstância, senti a tentação de tirar a minha dúvida com algum daqueles humanos, mas nem sei se eles saberiam me responder, não faço idéia do grau de alfabetização daquela gente. Quem é antropófago? É aquele que come carne de gente ou gente que come carne de gente? E se quem está comendo a carne for um poodle? O poodle com certeza não é canibal, disso eu sei, mas eu queria saber se ele é antropófago! Bom, continuei caminhando sozinho. E foda-se essa porra de língua, eu nem falo português, não me serve pra nada. Que loucura...

08 agosto 2008


DEIXA A MENINA SOLTA

Eu não!
Deixa ela quebrar a cara pra aprender como se faz;
Eu? Eu não!
Deixa ela viver do jeito dela pra dar valor;
Quem? Eu? Eu não!
Deixa a menina rebolar como quiser pra entender o que é de quem;

Eu é que vou saber?
Não sei! Mas a vontade ta aí;
Que dá vontade dá, e daí?
Deixa a menina solta pra saber o que é o vento;
Ta ventando?
Requebra no relento;

Eu não!
Que eu não quebro cara em dia de gente grande;
Eu? Eu não!
Que pra dar valor pro meu jeito de viver tem que se apressar;
Quem? Eu? Eu não!
Que eu não preciso rebolar pra entender o que eu não sei;

Deixa a menina voando;
Quem vai saber?