09 outubro 2008


as MINHAS MULHERES não são minhas

As minhas mulheres não são minhas. E mesmo assim, dia após dia, eu me submeto a elas. São tão delas próprias que eu me calo, eu obedeço. A revolta sobe até o gogó, sim, mas já no clima da desistência, querendo descer. O sorriso delas é mais forte, o choro, a raiva é mais forte, a dissimulação é mais forte, elas são enormes. Fascinantes, elas nunca foram minhas, e, se foram, esqueceram de me avisar. Já foram tantas e, por mais minhas que fossem, nunca minhas. Não que fossem de outros, muitas vezes sim, muitas vezes não, mas apenas não me pertenciam. Digo isso sem obsessão de posse, estou citando um tipo de coisa muito mais suave e absolutamente mais intensa. É impossível, é inviável não aceitar, não acatar, não querê-las por perto. A sedução é longa, o perigo é breve. Elas são lindas! Venenosas, me enlaçam de propósito, só pelo prazer de jurar que não havia intenção de enlaçar. A engenharia masculina não se mostra suficientemente a altura do maquiavélico raciocínio óbvio das malditas arquitetas. Tão puras e belas quanto más e astutas, elas decidem. Me deixam com febre e despertam uma obsessão fantástica, de tão boba. Deliciosas, me comandam se quiserem, mas só quando querem. Se não precisam, me deixam livre o suficiente pra pensar que eu mando em mim. Não mando, não. Sou inteiramente delas. Fico pensando que talvez a culpa seja minha, me falta força, falta vida. Talvez seja culpa delas, é controle demais, é descontrole demais e é tanta inocência que não existe inocência nenhuma. Exageradamente frágil é a minha paixão, pra passar por cima de toda essa capacidade de tudo, que já nasce com elas. De onde vêm esses furacões? Loucas, se perdem nos próprios pensamentos impróprios, e calmas, percebem e anotam cada passo, a cada milímetro, a fim de concluir o que provavelmente será desnecessário. Malucas. Fantásticas. Arrogantes. Vale mais apena aceitar o desprezo do que conviver com a falta. Gostosas, mimadas e necessariamente interessantíssimas, acabam comigo. Como é possível? De onde elas brotam, assim, previsíveis e surpreendentes? É o egoísmo da independência! Cheias de si, é como acontece – sempre delas mesmas, nunca minhas.

4 comentários:

Maria José Montenegro disse...

Dé, vc sempre me surpreendendo c a sua sensibilidade...não tem jeito, faço parte desse grupo de mulheres q interferem e comandam a sua vida, hehehe! Mil bjs, Zezé Dale

Andrè Dale disse...

Total! hahahahaha

betina disse...

são sempre tão fascinantes seus textos, leio e releio muitas e muitas vezes!
é uma deliciosa maneira de refletir e ver se consigo absorver pelo menos um pouco dessa sua enorme sensibilidade!

Andrè Dale disse...

Fala serio Bebeth...